Por Roberto Ferreira*
Com a evolução da pandemia, alguns setores foram mais impactados que outros. Neste contexto, a área de congressos, feiras e convenções, foi uma das mais afetadas entre todos os segmentos profissionais.
Com um volume de negócios gigante e uma cadeia produtiva onde se emprega milhares de pessoas em diversas especialidades, a pandemia na nossa sociedade levou alguns destes profissionais a buscarem meios de sobreviver e tentar manter seus negócios.
Eu, como profissional da área e com 26 anos de mercado atuante, nunca, em meus piores pesadelos, um dia poderia imaginar algo semelhante vir a acontecer. Não poder trabalhar, e ouvir de algumas autoridades sanitárias, que o meu trabalho seria uma ameaça a sociedade, algo impensável até março de 2020.
Como empresário deste setor, diretor da Ápice Eventos e Turismo, no ano de 2017, inovamos em criar uma empresa moderna, sem grandes investimentos em estrutura física, focando no cliente e no seu atendimento personalizado. Entendíamos que o tempo e disponibilidade do nosso cliente era essencial para uma experiência positiva na gestão de um evento e por isso, a empresa teria que ir até ele. Para tanto, investimos forte em tecnologia. E assim, os anos de 2018 e 2019 provaram que o formato optado estava certo. Realizamos grandes projetos, todos com êxito e satisfação total dos nossos clientes. A ordem era inovar!
O desalento da área é tanto, que mesmo os eventos virtuais perderam força, e os eventos híbridos contratados, que são virtuais e presenciais simultaneamente, correm risco de não acontecerem
Porém, com a suspensão dos eventos presenciais na cidade, fomos obrigados a buscar um novo formato de negócio, onde nos manteríamos atuantes e protegidos até que tudo isso passasse. Inicialmente busquei participar como ouvinte de várias salas virtuais de discursões do setor, onde ideias, criação de protocolos de segurança e inovação foram abordadas e analisadas por vários ângulos. Os indicativos apontavam que para manter o nosso negócio, teríamos que migrar exclusivamente na busca por eventos virtuais. Mas aos primeiros passos, algumas questões começaram a vir à tona. Um exemplo: será que a conta fecharia ao final de um contrato onde uma gama de insumos não seriam considerados? E os nossos custos fixos, seriam cobertos? Com relação aos nossos fornecedores, iríamos abandoná-los a própria sorte?
Com o desenrolar da pandemia, e as curvas instáveis de contaminação em nossa cidade, deliberamos em interromper momentaneamente a prospecção de novos clientes e começamos a trabalhar em home office. Executamos ajustes financeiros, reduzimos custos, liberamos colaboradores e mantemos a empresa em standby. É importante aqui lembrar que estamos fazendo referência a apenas o setor de empresa organizadora de congressos e convenções. Outros segmentos também do setor de eventos foram mais rígidos, e criaram movimentos no sentido de chamar atenção da nossa sociedade para o que estava acontecendo com o setor de eventos em nossa cidade. As reivindicações eram as mais diversas, como linhas de crédito especiais, isenção de alguns impostos, avaliação dos protocolos de segurança apresentados, porém sem adesão dos gestores públicos locais para os pleitos apresentados.
Movimento na Câmara e Senado Federal, foram feitos com apoio da grande maioria dos deputados e senadores no intuito de liberar crédito especial para o setor tão impactado com a parada total de suas funções, mas que ainda não se materializou efetivamente. Há poucos dias, o presidente Jair Bolsonaro assinou uma Medida Provisória, que prorroga regras especiais para serviços e eventos contratados durante a crise sanitária atual. Esta norma, editada no ano passado, prevê que em caso de cancelamento, o organizador não será obrigado a efetuar o reembolso do consumidor, desde que remarque o evento para outra data até 31 de dezembro de 2022.
Hoje, com o agravamento da pandemia, e os índices de morte divulgados pela imprensa, praticamente fizeram com que nossos negócios entrem num processo de letargia. Agora é esperar que os números melhorem, para voltarmos a buscar formas de continuar a fazer o que sabemos, que é organizar eventos. O desalento da área é tanto, que mesmo os eventos virtuais perderam força, e os eventos híbridos contratados, que são virtuais e presenciais simultaneamente, correm risco de não acontecerem, devido ao decreto do governo do estado que proíbe qualquer tipo de evento até a data de 5 de abril deste ano.
Por fim, entramos em uma “PARADA TOTAL”, absolutamente nenhum trabalho. Muito desalentador e desesperador, para um segmento que trabalha com serviços programados e mesmo que hoje voltássemos a força total, os prejuízos gerados com esta situação, ainda irá se prolongar por muito tempo. Mas vivemos disto, amamos o que fazemos e não desistiremos tão fácil.
*Roberto Ferreira é turismólogo e diretor da Ápice Eventos e Turismo