De atendente a auxiliar de mecânica. Aos 31 anos, Leomara Santos Oliveira é um dos exemplos de mulher que foge aos moldes tradicionais no mercado de trabalho, fruto de uma sociedade ainda muito patriarcal. De segunda a sexta (e alguns sábados, de acordo com a escala), ela chega ao Terminal de Contêineres do Porto de Salvador às 7 horas da manhã, onde faz o serviço de caldeiragem (elaboração de peças) e soldagem para os equipamentos do terminal. No local, ela divide o espaço com outra colega, a Itaimara Cerqueira, que também faz serviço temporário de soldagem. São as únicas mulheres entre os 80 operadores do setor de mecânica da empresa.
Leomara conta que antes de trabalhar com mecânica, atuava como atendente e vendedora, e em 2017 aceitou o convite do terminal de cargas do Porto de Salvador, por intermédio da Associação Baiana dos Deficientes Físicos (Abadef) para fazer o curso de mecânica geral no Senai, e dez meses depois já começou a trabalhar. “No começo foi estranho. Eu que vim de uma área onde tinha muito mais mulheres, de repente estava estudando mecânica, e só tinham homens trabalhando. Cheguei a ter dúvida. Será se iriam confiar que eu daria conta? Mas, logo nos primeiros dias vi que o preconceito era só na minha cabeça. Em maio faço dois anos nesta função”, relata Leomara, que começou como auxiliar geral, mas se destacou na soldagem. O curso de mecânica que ela fez foi todo custeado pelo Tecon Salvador, que além dela inscreveu outras 20 pessoas da mesma instituição parceira.
Outro exemplo é a motorista de trator de pátio, Mônica Tapioca, que no final do ano passado foi premiada pela alta produtividade. “São 24 homens no meu turno. Notei entre os colegas que eles ficaram felizes, mas vi que também serviu de estímulo. Eles passaram a se dedicar para ganhar também”, relembra Mônica. Ela é a responsável por remover o contêiner que foi retirado do navio para o posicionamento no pátio do terminal, uma função que exige agilidade e muita atenção. Quanto mais ágil é a remoção dos contêineres, menor é o tempo de permanência do navio no cais, fazendo com que o armador (dono do navio) economize e o Porto aumente a sua capacidade de atendimento.
Curso técnico
Aos 48 anos, Mônica gosta tanto desse tipo de trabalho que até investiu em um curso técnico para operação de máquinas de grande porte (empilhadeiras e RTGs), equipamentos que servem para reposicionar contêineres no pátio. “Sempre trabalhei dirigindo, fui instrutora de auto-escola, e continuo nesse ramo porque gosto, por isso, busco aprender. A empresa costuma selecionar entre os próprios funcionários quando surge uma vaga para operar essas máquinas, quis estar preparada para quando essa oportunidade chegar”, revela.
Atualmente, trabalham no terminal baiano 750 pessoas, e 12% são mulheres em cargos de direção, supervisão e operacionais. “Em 2011, fizemos um processo seletivo com o objetivo de atrair mais mulheres para o Tecon. O resultado é que temos hoje muitas delas atuando, inclusive em áreas de alta complexidade como Planner, que faz o planejamento estratégico e controle de equipes para carregar ou descarregar um navio, por exemplo”, esclarece Fernanda Lago, supervisora do DHO, Desenvolvimento Humano e Organizacional do Tecon Salvador.