Diversas entidades empresariais da Bahia e parlamentares repudiaram hoje a invasão e a destruição de parte das instalações da fazenda Iragashi, no distrito de Rosário, em Correntina. Na última quinta-feira, dezenas de vândalos que, motivados por suposta denúncia de o empreendimento estaria secando o Rio Arrojado, arrebentaram cerca, atearam fogo, destruíram sistema de energia, maquinário e tratores e agrediram trabalhadores. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) exigiiu dos órgãos estatais de segurança pública a adoção das mais “enérgicas medidas de investigação, de modo a identificar os responsáveis”.
“Ações coordenadas de depredação e vandalismo, como as verificadas na Fazenda Igarashi, demandam elevado grau de planejamento, típico de organizações criminosas dotadas de comando centralizado e apoio logístico, cujos movimentos não podem passar despercebidos pelas forças de segurança e pelas agências de inteligência do Estado brasileiro”, diz a nota que também é assinada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia, a Federação das Indústrias do Estado da Bahia e a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia.
Na nota de repúdio, as entidades dizem que esperam dos governos federal e estadual uma sinalização clara de que não compactuam com a violência no campo, assegurando aos produtores rurais brasileiros o respeito aos ditames do Estado de Direito para que possam continuar a produzir com liberdade e segurança. “Pela gravidade dos fatos, sem precedentes no Estado, os representantes dos segmentos da Agricultura, Indústria e Comércio confiam na ação eficiente do Governo Estadual, que tem por dever manter a ordem pública, adotando medidas rigorosas de apuração de responsabilidades e punição dos culpados, viabilizando a reparação dos prejuízos dos Produtores, que foram vítimas deste ato de terror, evitando, assim, a ocorrência de outras ações similares”, diz a nota.
Manifestação “extremista”
Também em nota, a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) afirma que apoia toda e qualquer manifestação de cunho ambiental, mas repudia veementemente ações violentas e atos de vandalismo contra o patrimônio, seja ele público ou privado. A Aiba classificou a manfestação de “extremista” e sem embasamentos técnico-científico, onde os participantes atribuem o baixo volume dos rios exclusivamente aos pivôs utilizados na irrigação das lavouras, desconsiderando estudos recentes sobre a disponibilidade hídrica da região, fatores climáticos e o próprio ciclo da natureza.
“A Associação lembra que, para produzir alimentos, os agricultores irrigantes desempenham suas atividades dentro da lei e são acompanhados pelos órgãos fiscalizadores. Qualquer irregularidade praticada pela categoria é passiva de penalidades previstas na Legislação Ambiental, uma das mais severas do mundo. Por isso, toda a captação é feita de maneira racional e eficiente, com auxílio de tecnologias que ajudam a reduzir o desperdício”, afirma a nota.
Desconhecimento
Já a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) lamentou o ato de “destruição e vandalismo”. A entidade entende como legítima manifestações pacificas que não infrijam a legislação penal vigente com atos de invasão e depredação de patrimônio, sejam eles público ou privado. “O rio Arrojado, causa da manifestação e da violência na Fazenda em Correntina, está com a vazão normal para este período do ano e nunca teve riscos de seca. Antes de serem levados ao ato de destruição, os representantes do movimento deveriam avaliar de forma objetiva qual o verdadeiro uso das águas para a Irrigação”, afirma a entidade.
Para a Abapa, o ato de vandalismo descorre do desconhecimento dos fatores climáticos e dos processos de produção agrícola no oeste da Bahia. Primeiro, em novembro, tem início as primeiras chuvas, retomando gradualmente o nível das águas; depois de longa estiagem, o que deixa naturalmente reduzida a vazão dos rios. Em segundo, nos meses de agosto, setembro e outubro, as fazendas estão em período de vazio sanitário, ou seja, sem produção agrícola. Somente com as primeiras chuvas que os agricultores começam o plantio das culturas de sequeiro, ou seja, sem uso de água.
“Do total de 2,2 milhões de área plantada, 160 mil são irrigados. Ou seja, somente 8% é irrigado. De toda forma, aqueles que utilizam sistemas de irrigação na produção passam por rigorosas concessões do uso da água pelos órgãos ambientais e por renovação da licença e fiscalização periódicas. Ao entender a importância da água e dos custos envolvidos na irrigação, os agricultores trabalham com equipes técnicas capacitadas que minimizam as perdas, utilizando a água de forma racional e eficiente”, diz a entidade em nota pública.
Questões ideológicas
De acordo com o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Júlio Busato, a empresa Igarashi tem ourtorga do Inema para fazer uso de 20% da vazão do rio e utiliza apenas 10%. “O rio não vai secar. Isso é uma mentira deslavada. Não tem cabimento querer justificar esse crime dessa forma. O governo da Bahia tem que tomar providências e garantir o direito de propriedade em nossa região”. Para Busato, a destruição ao empreendimento foi motivada por questões ideológicas de grupos que são contra o agronegócio.
O deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) diz que “o governador Rui Costa não pode ficar viajando à Cuba e deixar que o direito à propriedade seja ultrajado na Bahia, passando para o mundo a imagem de uma terra sem lei”. Aleluia, observou ser uma falácia a denúncia de que o empreendimento estaria secando o Rio Arrojado, afluente do Rio Corrente. “A empresa estava operando com todas as licenças ambientais, concedidas por um órgão do estado: o Inema. E o Rio Arrojado continua a correr normalmente sem nenhum indicativo de que vá secar”.