Embora ainda sinta os efeitos do cenário macroeconômico, o mercado de franchising brasileiro começa a apresentar os primeiros sinais de recuperação. No primeiro trimestre deste ano, a receita do setor cresceu 9,4% nominalmente em relação ao mesmo período de 2016. O faturamento passou de R$ 33,710 bilhões para R$ 36,890 bilhões. É o que revela a Pesquisa Trimestral de Desempenho do setor realizada pela ABF (Associação Brasileira de Franchising).
“Trata-se de um desempenho bastante significativo ao observamos todo o contexto da economia brasileira e também em comparação aos resultados registrados no primeiro trimestre de 2016, quando a inflação medida pelo IBGE foi de 2,62%, um índice elevado para o período. Porém, o dado revela que a recuperação do ritmo de crescimento do franchising é gradativa, ainda abaixo de dois dígitos”, afirma Altino Cristofoletti Junior, presidente da ABF.
Já no acumulado de 12 meses, o faturamento teve uma alta de 8,8%. Quanto ao movimento de abertura e fechamento de lojas no 1º trimestre de 2017, o estudo apontou uma variação positiva de 1,3% em relação ao mesmo período anterior, já que foram abertas 2,3% dessas unidades e houve o fechamento de 1,0% delas. São registradas atualmente 142.673 unidades de franquias no País.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego no País subiu para 13,7% entre janeiro e março deste ano, atingindo 14,2 milhões de pessoas. Impactada pelo quadro de retração do mercado de trabalho brasileiro, a pesquisa indicou uma queda de 0,22% no número de empregos diretos do setor no trimestre, que totalizou 1.188.979 de trabalhadores. Para o presidente da ABF, “o setor promoveu ajustes em suas operações a fim de aprimorar sua eficiência, garantir sua sustentabilidade e estar em sintonia com o momento econômico. Como a crise já se estende há mais de dois anos, houve o impacto maior nos empregos gerados, mas esperamos recuperar estes postos ao longo do ano”, pondera.
Segmentos
Entre os segmentos que apresentaram maior variação de crescimento nos meses de janeiro a março deste ano, Hotelaria e Turismo teve um faturamento maior em 31% na comparação com o mesmo trimestre de 2016. O resultado expressivo demonstra a recuperação do segmento que nos primeiros três meses do ano passado havia registrado 15% de queda da receita. A maior estabilidade do dólar, a redução do endividamento das famílias também explicam a significativa expansão.
O segundo melhor desempenho ficou com o segmento de Saúde, Beleza e Bem-Estar, que cresceu 17% no mesmo período. A procura por produtos e serviços da área, o crescimento de franquias de clínicas populares e a diversificação de canais de venda das redes de cosméticos são fatores que contribuíram para esse crescimento.
Limpeza e Conservação registrou o terceiro melhor desempenho, com variação positiva de 16% no período pesquisado. O segmento mostrou ganhos de eficiência ao reduzir o número de unidades e aumentar o faturamento.
“São dados que indicam o aumento da eficiência do setor como um todo, que está mais produtivo e fez a ‘lição de casa’ para enfrentar da melhor maneira possível os desafios impostos pela retração da economia brasileira”, declara Altino Cristofoletti Junior.
Em termos de localização das unidades, modalidade de operação e canal de venda, a pesquisa trimestral registrou uma tendência à estabilidade. Predominam unidades de Rua (65,9%) e em Shoppings (23%), seguidas do Home Office (5,3%) e em Supermercados (3,6%). Já em Modalidade de Operação, predominam Lojas (90%), precedidas de Quiosques (7%). As Lojas (próprias e franqueadas) também prevalecem enquanto Canal de Vendas (75,1%), seguidas do E-commerce (1,7%).
“Nos últimos dois anos, temos visto um maior interesse por parte das redes tanto no desenvolvimento de novos formatos como na diversificação de canais de venda. Frente à grande base instalada de lojas, esse movimento ainda não foi suficiente para impactar mais pesadamente o perfil do setor, mas acreditamos que isso tenda a acontecer nos próximos anos. A ABF, inclusive, pretende estudar mais de perto esse movimento tão importante para o futuro do franchising”, afirma o presidente da ABF.
Multifranqueados e franqueados multimarca
A pesquisa trimestral apontou ainda o fortalecimento da tendência de redes com multifranqueados e franqueados multimarca. Em 2017, 74,5% das redes alegaram ter multifranqueados em suas operações, ante um índice de 68,5% em 2016. Por outro lado, caiu o número de redes que proíbem esta prática, que passou de 1,4% para 0,3%. Considerando-se as redes que possuem multifranqueados, 23% de seus franqueados têm mais de uma unidade. Quando olhamos de forma invertida, ou seja, para as unidades, 37% delas são administradas por multifranqueados.
Expansão semelhante se registra entre os franqueados multimarca (empreendedores que administram unidades de mais de uma marca de franquia). Em 2017, 43% das redes afirmaram possuir franqueados multimarca, uma espansão de cinco pontos percentuais em relação a 2016. A penetração, porém, ainda é baixa: das redes que permitem esta prática, apenas 6% dos franqueados são franqueados multimarca. Administrar unidades de 2 a 4 marcas é prática predominante.
“Esta é uma tendência que avança no Brasil, tanto devido às vantagens operacionais, quanto ao amadurecimento dos empreendedores e às oportunidades geradas pela retração econômica. Porém, temos ainda muito espaço, visto que, em mercados mais maduros como o norte-americano, o percentual de franqueados que administra mais de uma unidade supera os 50%”, avalia o presidente da ABF.