O Brasil é campeão na cobrança de juros de cartão de crédito, constatou a Proteste Associação de Consumidores ao comparar, em setembro, a taxa média de juros cobrada nas operações com cartão de crédito com o de outros seis países (Argentina, Chile, Colômbia, Peru, México e Venezuela). É a quarta vez que a Proteste divulga a lista e que o Brasil lidera esse ranking.
O brasileiro pagou em setembro 436% de rotativo na média anual. O Peru aparece em segundo lugar, com a cobrança de 43,7% no mesmo período. Para o levantamento, foram considerados os dados oficiais dos bancos centrais de cada país e mesmo período, setembro deste ano. Somente no caso do México os dados são de dezembro de 2015 — 23% na média anual.
Em terceiro lugar no ranking está a Argentina, com 43,29% na média anual. Em quarto lugar ficou a Colômbia, com 30,45% de média cobrada. Até a Venezuela, que passa por crise política e inflação elevada tem como o máximo cobrado, 29%. O Chile tem média de 24,90%.
A Proteste compilou e comparou dados de 108 cartões de crédito de 12 instituições financeiras. Foram encontrados juros exorbitantes no rotativo de 1.158% ao ano no cartão Santander Free, os maiores do mundo.
Endividamento
Caso o consumidor seja portador deste cartão com o rotativo de 1.158% ao ano e tiver uma fatura no valor de R$ 1.000,00 e resolver pagar somente o mínimo (15% do valor total da fatura) e deixar rolar essa dívida, no fim desses 12 meses, estará devendo mais de R$ 10 mil. Os juros cobrados nas modalidades do crédito rotativo são uma das causas do crescente endividamento dos brasileiros. Segundo dados da PEIC (Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), o cartão de crédito foi apontado como um dos principais tipos de dívida por 76,3% das famílias endividadas.
Esses dados são ainda mais alarmantes se compararmos a taxa praticada no Brasil com a de outros países. A taxa média praticada no rotativo no Brasil é 392 pontos percentuais maior do que a praticada no Peru, que é o país com a maior taxa dentre os analisados (43,7% ao ano em média). Na Argentina, os juros no rotativo não ultrapassam os 43,29% anuais, já na Venezuela 29% ao ano é o máximo encontrado no rotativo e na Colômbia a média da taxa de juros no rotativo do cartão praticada é 30,45% ao ano, no Chile a média é de 24,9% ao ano. No México, a média dessa taxa é de 23% ao ano, porém esse dado é de dezembro de 2015, o último divulgado pelo Banco Central do México. Todos os dados foram coletados através do Banco Central de cada país do estudo.
Para orientar o consumidor que está endividado ou que tem dúvidas sobre a cobrança de juros no cartão de crédito, a associação tem atendimento pelos telefones 0800-282-2205 (para telefones fixos) ou (21) 3906-3900 (para celulares). O serviço é gratuito e funciona de segunda à sexta-feira, das 9h às 18h.
A Proteste defende regulamentar um limite máximo para os juros do rotativo do cartão de crédito, conforme proposta encaminhada ao Banco Central, no ano passado. Propõe limitar o valor ao dobro da taxa do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), taxa de juros que o banco paga quando toma dinheiro emprestado no mercado interbancário. O valor seria revisto anualmente. Com isto, garante-se uma remuneração dos bancos de até 100% do custo de tomada do dinheiro. Por este critério, os juros seriam limitados a 28,38% este ano.
Comparativo das taxas do rotativo do cartão de crédito com outros países da América Latina (em % anual):
TAXA DO ROTATIVO DO CARTÃO DE CRÉDITO (% ao ano) | |
Países | Setembro de 2016 |
BRASIL | 436% (Média) |
PERU | 43,7% (Média) |
ARGENTINA | 43,29% (Máximo cobrado) |
COLÔMBIA | 30,45% (Média) |
VENEZUELA | 29% (Máximo cobrado) |
CHILE | 24,90% (Média) |
MÉXICO* | 23,0% (Média) |
* Os juros do rotativo no México são de dezembro de 2015, o último divulgado pelo Banco Central do México.